sábado, 28 de fevereiro de 2015
"Os perigos de uma história única"
Vídeo discutido essa semana com as turmas do segundo ano do integrado:
Uma introdução a História da África.
“Os estudos escritos e sistemáticos sobre o passado dos povos
da África, em especial da África abaixo do Saara, são bastante recentes.
Começaram após a segunda guerra mundial, estimulados pelo processo de
independência e formação de novos países no continente. O interesse principal
dos africanos em conhecer a sua história está relacionada com a busca de
identidades políticas e culturais. Hoje, apesar de a história da África ser
mais conhecida, ainda é um processo em construção.” (VAINFAS et.al. 2010)
O
ensino de história da África e dos Afrodescendentes foi tornado obrigatório no
Brasil em 2003, pela Lei 10.639/03. Esta lei é mais uma
vitória do movimento negro brasileiro que sempre buscou a valorização das nossas
raízes africanas.
Existe “Raça” entre os seres humanos?
O conceito de raça surgiu no século XVII - na Europa - e tomou força nos
séculos XVIII e XIX, desenvolvendo-se com vitalidade. Acreditava-se que os seres humanos tinham raças diferentes –
e que a mistura das mesmas poderia resultar em “degenerações”. O auge deste
tipo de pensamento foi a eugenia praticada por Hitler. Mas, antes mesmo do
nazismo, cientistas sociais já combatiam a ideia de raça. Os antropólogos,
assim como outros estudiosos, comprovaram que o que existe entre os seres humanos
são as etnias. Tal conclusão foi corroborada, nos anos 2000, com a conclusão do
“projeto genoma”.
Em substituição ao conceito de raça devemos
usar o de Etnia, que significa grupo
biológico e culturalmente homogêneo. Do grego ethnos, povo que tem o mesmo ethos, costume, incluindo língua, cor de
pele, religião etc. O termo não é sinônimo de raça, pois a palavra raça tem um
sentido exclusivamente biológico.
África: diversidade humana e
ambiental.
deserto do kalahari
Neve na África do Sul
África ao
Sul do Saara = África subsaariana ou África Negra.
A África Subsaariana manteve relativo isolamento ao longo
dos séculos. Os muçulmanos, que exploravam de forma mais cotidiana o continente
durante o século XIV, não mantinham muitos contatos com os povos mais ao sul,
embora estes contatos acontecessem. Estes diversos povos, onde hoje se
encontram o Congo e Angola (por exemplo), conheceram de forma mais efetiva
outras culturas quando do contato com os europeus no litoral durante a expansão
marítima europeia (séculos XV/XVI).
-Gana: o
reino do ouro.
Um dos mais conhecidos Impérios africanos, assim como o do
Mali.
Gana começou a se desenvolver como estado centralizado no
século IV, quando seus fundadores começaram a se organizar para se defender os
povos do deserto (berberes), que atacavam as aldeias locais. O nome se deve ao
fato do chefe político receber o nome de Gana, “senhor da guerra”.
Ficou conhecido como “reino do ouro”, não por ter ouro, mas
por ter dominado territórios que tinham o metal e por canalizar rotas
comerciais de ouro que atravessavam regiões, como o deserto do Saara. Outra
mercadoria muito presente na região eram os escravos, principalmente vindos das
expanão muçulmana na África Ocidental, além disto as guerras produziam muitos
cativos.
Religião: A religião era animista ou feiticihista, ou seja,
atribuia-se vida espiritual a elementos da natureza (animais, rios, plantas,
rochas...) que eram por vezes representados por ídolos (feitiches). O principal
culto era o do deus-serpente, que recebia anualmente o sacrifício de uma bela
jovem.
O auge de Gana se deu entre os séculos IX e X.
- O Império
do Mali:
O reino conhecido como Mandinga ou Mali, ao sul de Gana, era
de início composto por caçadores, que também trabalhavam a terra em campos
comunitários.
A expansão terrritorial do Mali: fruto do processo de
islamização do reino no século XIII.
Por muito tempo o Mali governou diversos povos, que
reconheciam o imperador como seu soberano, o que fazia com que maiores
conflitos não ocorressem. Mas a longa duração do Império Mali se deve mais ao
sistema descentralizado de governo e à tolerância religiosa. Nenhum soberano do
Mali fez a guerra santa (jihad).
Os reinos da
região do Sudão central:
HAUÇÁS:
- População resultado de diversas interações étnicas e
culturais, em regiões onde passavam caravanas comerciais transsaarianas. As
cidades eram fortificadas e a população rural do entorno buscava, quando
necessário, abrigo, reconhecendo assim os soberanos citadinos. Pouco a pouco os
chefes militares tornaram-se soberanos.
As cidades, além da proteção, tornaram-se pontos de trocas
comerciais, especialmente de artesanato.
A partir de meados do século XIV a região se islamizou e a
escrita árabe se difundiu.
IORUBÁS:
Localizavam-se a Oeste das atuais Nigéria e Benin. Sua
origem é lendária e acredita-se que são descendentes do povo Olodumaré. Este
povo tinha ao menos sete cidades, incluindo Benin, Ilé Ifé e Oyo. Ilé Ifé era o
centro espiritual, governada pelo oni
(grande sacerdote). Cada cidade dominava aldeias e povos a sua volta. Seus governantes eram eleitos por um conselho
de estado e governavam por um tempo determinado. Este conselho assim detinha o
poder político e controlavam o soberano. Tal conselho também era responsável
pela preservação dos costumes e pela segurança das cidades. Quando o rei era
considerado culpado mandavam que ele fosse “dormir”, ou seja, que fosse
envenenado.
O Reino do Benin foi o principal reino Iorubá. Criado
no século XII, tinha como governante o obá,
um monarca com poderes políticos, militares e espirituais. O obá comandava
ritos que incluíam sacrifícios humanos, normalmente de escravos.
A principal fonte de riqueza dos povos iorubás era o
comércio, no Benin havia um grande mercado, onde os comerciantes ofereciam as
mais diversas mercadorias, com destaque para tecidos, cobre e escravos.
Cabeças Iorubá de bronze:
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015
A CULTURA CONDICIONA A VISÃO DE MUNDO DO HOMEM
“Ruth Benedict escreveu em seu livro ‘O crisântemo e a espada’ que a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo. Homens de culturas diferentes usam lentes diversas e, portanto, têm visões desencontradas das coisas. [...]
A nossa herança cultural, desenvolvida através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria da comunidade. Por isto, discriminamos o comportamento desviante. Até recentemente, por exemplo, o homossexual corria o risco de agressões físicas quando era identificado numa via pública e ainda é objeto de termos depreciativos. Tal fato representa um tipo de comportamento padronizado por um sistema cultural. Esta atitude varia em outras culturas. Entre algumas tribos das planícies norte-americanas, o homossexual era visto como um ser dotado de propriedades mágicas, capaz de servir de mediador entre o mundo social e o sobrenatural, e, portanto, respeitado. [...]
O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado da operação de uma determinada cultura.
Graças ao que foi dito acima, podemos entender o fato de que indivíduos de culturas diferentes podem ser facilmente identificados por uma série de características, tais como o modo de agir, vestir, caminhar, comer, sem mencionar a evidência das diferenças lingüísticas, o fato de mais imediata observação empírica.
Mesmo o exercício de atividades consideradas como parte da fisiologia humana podem refletir diferenças de cultura. Tomemos, por exemplo, o riso. Rir é uma propriedade do homem e dos primatas superiores. O riso se expressa, primariamente, através da contração de determinados músculos da face e da emissão de um determinado tipo de som vocal. O riso exprime quase sempre um estado de alegria. Todos os homens riem, mas o fazem de maneira diferente por motivos diversos.
A primeira vez que vimos um índio Kaapor rir foi um motivo de susto. A emissão sonora, profundamente alta, assemelhava-se a imaginários gritos de guerra e a expressão facial em nada se assemelhava com aquilo que estávamosacostumados a ver. Tal fato se explica porque cada cultura tem um determinado padrão para este fim. Os alunos de uma nossa sala de aula, por exemplo, estão convencidos de que cada um deles tem um modo particular de rir, mas umobservador estranho a nossa cultura comentará que todos eles riem de uma mesma forma. Na verdade, as diferenças percebidas pelos estudantes, e não pelo observador de fora, são variações de um mesmo padrão cultural. Por isto é queacreditamos que todos os japoneses riem de uma mesma maneira. Temos a certeza de que os japoneses também estão convencidos que o riso varia de indivíduo para indivíduo dentro do Japão e que todos os ocidentais riem de modoigual. Pessoas de culturas diferentes riem de coisas diversas. Enfim, poderíamos continuar indefinidamente mostrando que o riso é totalmente condicionado pelos padrões culturais. [...]
O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como conseqüência a propensão em considerar seu modo de vida como o mais correto e o mais natural. Tal tendência, denominada etnocentrismo, é responsável em seus casos extremos pela ocorrência de numerosos conflitos sociais.
O etnocentrismo, de fato, é um fenômeno universal. É comum a crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade, ou mesmo a sua única expressão. As autodenominações de diferentes grupos refletem este ponto de vista. Os Cheyene, índios das planícies norte-americanas, se autodenominavam "os entes humanos"; os Akuáwa, grupo Tupi do Sul do Pará, consideram-se "os homens"; os esquimós também se denominam "os homens"; da mesma forma que os Navajo se intitulavam "o povo". Os australianos chamavam as roupas de "peles de fantasmas", pois não acreditavam que os ingleses fossem parte da humanidade; eos nossos Xavante acreditam que o seu território tribal está situado bem no centro do mundo. É comum assim a crença no povo eleito, predestinado por seres sobrenaturais para ser superior aos demais. Tais crenças contêm o germe do racismo, da intolerância, e, freqüentemente, são utilizadas para justificar a violência praticada contra os outros. [...]
O ponto fundamental de referência não é a humanidade, mas o grupo. Daí a reação, ou pelo menos a estranheza, em relação aos estrangeiros”. A está aversão ao estrangeiro, chamamos de xenofobia. “A chegada de um estranho emdeterminadas comunidades pode ser considerada como a quebra da ordem social. [...]. Comportamentos etnocêntricos resultam também em apreciações negativas dos padrões culturais de povos diferentes. Práticas de outros sistemas culturais são vistas como absurdas, deprimentes e imorais”.
(LARAIA, Roque de B. Cultura: Um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003. pp. 67-74)
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